Eu escolhi Granada, cidade que fica na Andaluzia, na Espanha, como destino para fazer meu intercâmbio. Na verdade, minha intenção era ir para o Canadá, mas na falta de opções que tinham na UFF, acabei parando aqui. E como tudo na minha vida, nada sai como planejado primeiramente, mas no final, termina melhor do que eu poderia esperar.
O caminho até aqui foi longo.
Quando fui comprar as minhas passagens, elas estavam carésimas. A menos cara era com stop nos Estados Unidos (meus vôos seriam Rio-Miami-Madrid-Granada). Como a data coincidiu com a que a minha mãe e minha tia estavam indo para Miami, comprei essas mesmo e aproveitei e fiquei uns dias em Miami com elas, afinal, quem não gosta de aproveitar uns diaszinhos em Miami e fazer umas comprinhas?
O meu vôo era American Airlines, o delas Tam, e a princípio eu chegaria no aeroporto 2 horas antes delas. Digo "a princípio", porque é claro, como queridinha de Murphy, algo sempre tem que acontecer comigo. Depois de cerca de 2h de vôo, um homem começou a passar mal no avião e tivemos que voltar para Brasília para fazer um pouso de emergência. Não nos disseram exatamente a causa dele ter passado mal, mas os rumores dentro do avião eram que ele tinha bebido exageradamente. Enfim, pousamos em Brasília e achávamos que logo levantaríamos vôo de novo. Mas não. Ficamos parados 3h em solo, sem poder sair do avião, enquanto esperávamos um mecânico vir inspecionar a aeronave e finalmente liberá-la novamente para voar. E nisso minha mãe e minha tia já estavam voando também e eu não tinha como avisar do atraso. A sorte foi que eu, entediada, resolvi postar no Facebook sobre o que aconteceu e uma amiga conseguiu avisar a elas. (Obrigada, Jack!)
Bom, depois disso o vôo correu bem e cheguei no aeroporto sem problemas. Achei que a imigração de Miami iria pegar um pouco no meu pé, por estar indo sozinha para lá, mas nunca fui tão bem tratada pela imigração dos EUA. Não me perguntaram praticamente nada e o policial ainda me elogiou por falar mais de uma língua.
Enfim, encontrei com elas e acabei ficando em Miami por 4 dias, e foi uma delícia. Na hora de ir embora que deu aquele aperto no coração, e foi aí que a ficha começou a cair que eu realmente iria ficar seis meses longe de casa, numa cidade que eu não conhecia nada nem ninguém, falando uma língua que apesar de ter facilidade, não falava há mais ou menos 6 anos.
O vôo Miami-Madrid ocorreu sem maiores problemas. Muito pontual, apenas trocaram o meu assento de lugar e me colocaram na última fileira, de cara para o banheiro. O avião estava lotado, não tinha nem mais espaço para colocar a mala de mão. Percebi que o assento de emergência da primeira fileira estava vazio e perguntei ao comissário se eu podia ficar lá, já que tinham mudado o meu lugar sem nem me avisar. Ele disse que sim, desde que não aparecesse ninguém. E não apareceu! =D
Sentou uma velhinha fofa no meu lado e eu viajei com um monte de espaço para as pernas, mas não consegui dormir (o vôo saiu de Miami às 18h).
Chegamos em Madrid, a diferença de fuso já mexendo com o meu organismo. Aqui na Espanha estamos 6h na frente dos EUA, 5h na frente do Brasil. Então, quando cheguei em Madrid, apesar de já ser 9h da manhã aqui, para mim ainda eram 3h da manhã, e eu ainda não tinha dormido.
O aeroporto de Madrid, Barajas, é imenso. Muito, muito grande. E não tem muita informação, tive que sair perguntando como faria para conseguir pegar a minha conexão. Tinham falado que a imigração seria em Madrid e a alfândega em Granada, mas eu não fiz alfândega em lugar nenhum. Sobre a imigração em Madrid, disseram que eles eram super chatos aqui na Espanha, principalmente com brasileiros. Olha, se eu contar que o policial nem olhou na minha cara e carimbou o meu passaporte bem em cima do meu visto espanhol (porque eu tinha dado a ele aberto na página do visto), vocês acreditam? Ele nem respondeu o meu "Buenos Dias".
O avião que leva de Madrid à Granada é minúsculo, parece até ônibus, até a mala de mão temos que colocar no bagageiro que fica embaixo do avião. Mas o vôo leva apenas 40 min e eu estava tão, tão cansada que nem reparei se sacode mais que o normal.
Cheguei em Granada no horário previsto. O aeroporto daqui é minúsculo, mas o nosso vôo veio bem cheio e na hora de pegar um taxi foi um salve-se quem puder. Agora eu sei que aqui na cidade tem muuuuitos taxis, mas na hora que chegamos no aeroporto, eles demoravam demais para passar.
Finalmente cheguei no meu apartamento, que eu tinha alugado pela internet. Eu conheci uma brasileira que já morava aqui, a Paula, que desde então tem sido um anjo em minha vida. A Paula veio conversar com a caseira do apartamento, pegou a chave do meu quarto para mim e veio aqui trazer quando eu cheguei. Pois é, uma fofíssima.
O apartamento acabou sendo bem melhor do que eu imaginava, enorme, com um terraço bem grande. Eu divido com um italiano de Nápoles, Carmine, e uma espanhola de Málaga, Eli. Eles são uns amores, e o melhor de tudo, super organizados e limpinhos. hahaha
Quando eu cheguei aqui, num domingo, estava tudo fechado.
Aqui em Granada nada abre domingo. Se você chega e quer fazer compras no mercado, prepare-se para passar fome, porque eles não abrem. Isso, junto com o fato da cidade ser completamente diferente de tudo que eu já tinha visto, misturado com o cansaço e perceber que eu realmente não conhecia nada nem ninguém e que ficaria aqui por 6 meses, me bateu um pequeno desespero. Eu já fiz intercâmbio antes, mas foi completamente diferente. Eu fui trabalhar no Universal Studios em Orlando, mas eu fui com o apoio da agência e com outras 48 pessoas que eu já tinha conhecido no Brasil. Aqui, sou eu e eu.
Ou assim eu pensava.
Logo eu descobri que só fica solitário em Granada quem quer.
A cidade tem um quarto de sua população de estudantes, além da Universidad de Granada ser a universidade da Europa que mais recebe estudantes internacionais. Ou seja, existem centenas de pessoas aqui na mesma situação que eu.
Uma cidade universitária tem dois pontos bastante claros: as coisas são bem mais baratas que cidades grandes normais (aqui a cidade é bem pequena, se faz tudo andando, mas parece cidade grande, porque tem todas as grandes lojas e redes de fast-food) e... TEM FESTA TODOS OS DIAS.
Quando eu digo todos os dias, são todos. os. dias. De segunda a segunda.
Tem uns três grupos diferentes que sempre organizam os encontros e as festas. O melhor de tudo é que quando você sai com os grupos, você não paga para entrar nas boates, e lá dentro, um shot de tequila ou jager, por exemplo, custa €1! O mesmo para cerveja (e as cervejas são sempre top).
Na segunda-feira eu conheci a Eli, minha compañera de piso, e saímos para comer tapas e beber cerveza em um bar aqui perto de casa. Ah, aqui em Granada você pede uma cerveja e eles trazem tapas de graça. Tapas são pequenas porções de comida para você fazer degustação. Alguns lugares trazem alguma coisa aleatoriamente, outros eles deixam você escolher. Tem de tudo: queijos, croquetes, pizza, batata-frita, tortilla... Nesse dia o Carmine, o outro compañero de piso, fez um jantar de boas-vindas, e ainda conheci uma espanhola amiga da Eli e uma inglesa que eu só conhecia pelo Facebook, a Amber.
Cerveza y tapas |
Na terça-feira, fui encontrar com um brasileiro da UFF, o Jonathas, que já tinha chegado aqui há duas semanas e estava super enturmado. O pessoal combinou de se encontrar em uma pizzaria com pizza a metro (as pizzas realmente tem um metro de diâmetro! E são deliciosas!)
Lá eu conheci muita gente legal: holandeses, belgas, alemães e duas mexicanas que são duas das pessoas mais fofas que já conheci, a Elena e a Danya. Depois de comer, fomos comprar bebidas e beber num lugar chamado "Botellodromo", que é o único lugar público da cidade que é permitido beber. Foi aonde eu aumentei meu vocabulário alemão e aprendi palavras lindas e delicadas como "fotze" e "schiss". De lá, partimos para uma boate, que eu achei ótima. Tocava todos os tipos de músicas. Tocou até Gusttavo Lima! (não que isso tenha tornado a boate melhor hahaha).
Botellodromo |
Na quarta-feira, encontrei com a Paula, que estava empolgadíssima porque tinha entregue a tese de mestrado e tinha passado. Saímos para comemorar, claro!
Muchos chupitos de €1.
Celebrating |
Quinta-feira foi dia de descansar, porque a idade já está pesando e o bolso ficando cada dia mais leve.
Na sexta-feira, a Jéssica e a Letícia chegaram para visitar Granada. Elas são duas brasileiras super fofas também, da UFF, que estão morando em Madrid.
E lá vamos nós mostrar a cidade (na sexta-feira, já estava me sentindo totalmente em casa e queria que todos adorassem a cidade, como se fosse minha mesmo) e comer tapas.
Tapas, chupiteria (loja especializada em shots, com mais de 100 tipos, todos por €1) e mais boate. Detalhe, a boate fica dentro de uma cova num topo de uma montanha, me senti fazendo uma trilha para chegar lá.
Sábado de manhã acordamos e fomos turistar, porque até então eu praticamente só conhecia o centro da cidade. A Elena e a Danya encontraram com a gente também.
Nossa primeira parada foi no bairro de Albaícin, um bairro árabe muito legal.
As lojas vendem produtos árabes típicos, e são lindas, cheias de lanternas, chás e produtos feitos com couro. Os preços são uma maravilha também!
Eu fiquei enloquecida e saí tirando fotos, até o vendedor vir resmungar dizendo que não podia. Ahhhhh!
Saímos andando para dentro do bairro, que é cheio de ruelas encantadoras.
As casas são todas bonitinhas, e entre uma ruela e outra, você encontra mansões. O que eu achei mais engraçado foi ver alguns carros lá em cima. Realmente não sei como chegaram lá.
Continuamos caminhando e avistamos a Alhambra ao longe. A Alhambra (pronunciada Alámbra, sem o H) é o principal monumento de Granada e o ponto turístico mais visitado da Espanha. Se um dia você vier a Granada e quiser visitar o famoso castelo, é bom comprar o ingresso com antecedência. Eles começam a vender 3 meses antes, e nós fomos ver para irmos no sábado e já estavam com quase todos os dias esgotados até dezembro!
Queríamos ver a Alhambra mais de perto e também conhecer Sacromonte, o lugar onde existem várias cavernas que servem como hotéis, restaurantes e boates.
É claro, lá vamos nós para mais subidas e caminhadas.
Mas chegando lá a vista super vale a pena.
Alhambra |
Sacromonte me lembrou bastante a Grécia, ou pelo menos a minha imagem da Grécia, já que nunca fui lá. :P São várias cavernas de pedra, pintadas de branco.
Depois de passear, começamos nossa caminhada de volta para casa, pois a essa hora já estávamos super famintos.
Chegando lá em baixo vimos que estava tendo um casamento, e achamos muito engraçado como as pessoas de vestem diferente aqui para casamentos. Todo mundo com roupas chamativas e chapéus espalhafatosos.
Almoçamos em um restaurante português muito bom (e barato!) que tinha numa pracinha perto da Carrera del Darro, a rua mais bela da cidade.
Estou aqui há apenas uma semana, e no meu primeiro dia eu tinha muitas dúvidas de como seria a minha adaptação. Hoje, mesmo ainda tendo muitas e muitas semanas pela frente, já sei que quando voltar para casa, vou morrer de saudades daqui!
Oi Camilla, fiquei Super curiosa para saber como e todo o processo de aluguel, etc. Depois de começar a ler teus relatos fiquei bastante tentada a fazer intercambio em Granada, me da umas dicas como faço pois não tenho a mínima ideia. Você é D+ e muito simpática adoro ler teus relatos. Beijos
ResponderExcluirOi! Depois eu faço um post de como foi todo o processo: seleção, visto, etc... Eu comecei as aulas essas semanas, estou esperando para ver como vai ser a matrícula etc para escrever aqui. Você é de onde?
ExcluirE obrigada! :)
ExcluirOi sou de Recife
ResponderExcluirFico no aguardo. Bjs
ResponderExcluirAlguém saberia me informar onde é melhor morar lá?
ResponderExcluirNo centro ou perto da universidade de informática e engenharia?
Muito obrigado!