segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Marrocos - Aventura no Saara - Parte 1

Eu ando completamente atrasada com os relatos aqui no blog... foram tantos passeios aqui pela Espanha e tenho tantas coisas novas para falar sobre Granada... ainda vou escrever tudo, mas primeiro preciso compartilhar essa aventura incrível que foi a minha viagem ao Marrocos.

Eu tinha 10 anos quando passou a novela O Clone e eu me encantei pela cultura super diferente e as cores desse país que parecia uma realidade completamente distante para mim. Nunca imaginei que um dia conseguiria fazer essa viagem, e não de maneira tão "fácil" e tão em conta.

Para quem vem para a Europa, principalmente para Portugal ou Espanha, chegar no Marrocos realmente é bem tranquilo. Eu fui de excursão com um grupo de estudantes (éramos 18 no total) e saímos de ônibus de Granada rumo à África. O preço da viagem me surpreendeu: €269 euros, 5 dias, 4 noites, com tudo incluso: transporte, guia, hotel, passeios e refeições. Até agora estou fazendo conta para entender como esse dinheiro deu para pagar tudo o que nós fizemos, mas talvez hotéis sejam realmente baratos por lá, não perguntei realmente os preços. O meu pacote era para conhecer o Saara e algumas cidades que iríamos parando pelo caminho (no total foram quase 3.000km percorridos na viagem... haja música no iPod, videos fofos dos priminhos no celular, brincadeiras de viagem, aulas de alemão e português e sono para fazer o tempo passar na viagem).

Nosso ônibus saiu de Granada às 6:45h da manhã. Ainda estava escuro e fazendo 6˚C. Ui ui ui. E eu estava tão ansiosa que não tinha nem conseguido dormir à noite.


Paramos em Málaga para buscar o resto do pessoal e seguimos para o porto de Tarifa, onde pegamos a barca que leva até Tanger, no Marrocos. De Granada a Tarifa são cerca de 4:30h. O porto é super tranquilo e se eu não me engano tem barca saindo quase de hora em hora. Nós nos atrasamos um pouco e em vez de sair na barca das 12h como estava previsto, tivemos que esperar a das 13h. O trajeto dura 45 minutos e custa €3 o trecho.



Não é necessário visto para ir ao Marrocos, pelo menos não para nós brasileiros. Nós passamos pela imigração para sair da Espanha e a imigração no Marrocos é feita dentro da barca.



Nós vamos na parte de cima, e em baixo vão carros, ônibus etc...

Eu estou acostumada com a barca Rio-Niterói, que ok, "Não dá para comparar o estreito de Gibraltar com a Baía de Guanabara, Camilla!" - como diria a minha amiga Paula, mas é impossível não comparar. Diferentemente da loucura que são as nossas barcas, o trajeto de ida foi uma tranquilidade só (na ida, na volta, é claro, tivemos problemas. Como sempre).



A barca possui três lanchonetes, duas no segundo andar e uma no terceiro, mas as opções de comida não são muitas: sanduíches e biscoitos, refrigerante e água. E as coisas são bem carinhas.


Deixando Tarifa


Lá dentro tem também um Duty Free que vende perfumes, bebidas, chocolates e cigarros.



Enfim chegamos em Tanger e tudo correu super bem. O nosso micro-ônibus estava nos esperando para seguir viagem para Méknes e o nosso guia nos levou para trocar o nosso dinheiro.

Porto de Tanger



A casa de cambio fica ali no estacionamento do porto mesmo. Nós trocamos o dinheiro, mas em várias partes do Marrocos eles aceitam euros sem problemas. Trocamos €1 por 10,95 dirhams, e quando usávamos euros em lojas, eles faziam €1 = 10 dirhams.



Nessa hora já eram quase 2 da tarde e estávamos todos morrendo de fome. Um dos meus maiores medos dessa viagem era quanto à alimentação. Sempre ouvi falar que era difícil comer no Marrocos, que os restaurantes eram sujos etc... Acho que essa foi uma das melhores coisas de termos ido em uma excursão e com um guia local, o Nasser. O almoço do primeiro e último dia (que seriam em Tanger), não estavam inclusos, mas o Nasser nos levou em um restaurante bem legal que tinha por lá. E em frente tinha também um Pizza Hut (se alguém for e não quiser mesmo comer comida típica). 

Eu pedi um frango com batatas - não tinha como errar e estava bem gostoso, apesar de vir um prato imenso de comida. E é muito barato. O meu foi meio frango com batatas e arroz típico e custou 50 dirhams, algo como €4,50.

Coca-Cola em árabe

Tanger me surpreendeu muito. Sempre tive aquela imagem estereotipada e imaginava um lugar meio que parado no tempo e com todas as mulheres andando de véu. Realmente, a cidade ainda está um pouco atrasada, e sim, tem mulheres andando de véu pelas ruas, mas também tem carros luxuosos, grandes redes de fast-food e muitas pessoas andando com roupas normais (para nós) e sem véu. 

Depois do almoço fomos direto para o ônibus para irmos à Méknes, pois o caminho até o Saara era longo. Paramos em um supermercado para irmos ao banheiro e algumas pessoas aproveitaram para comprar biscoitos, ver o preço das bebidas (caríssimas - e para alguns muçulmanos, bebida alcoólica é um pecado terrível) e eu aproveitei para comprar uma toalha, já que tinha esquecido e o primeiro albergue não teria.

Marjane, imagino que é o Wal-Mart marroquino, vi bastante pelo caminho



Nossa segunda parada antes de chegar ao albergue em Méknes foi para jantar. Não parecia um restaurante, mas uma grande casa na fazenda ou algo parecido. O Marrocos é uma monarquia e em praticamente todos os lugares que íamos tinha uma foto enorme do rei. Inclusive na entrada desse lugar que fomos comer.

O jantar estava bom, sopa, depois frango (sempre frango...) e legumes. De todas as refeições, foi a mais fraca. 



A princípio era para termos chegado ainda pela tarde em Méknes, mas devido ao nosso atraso, chegamos tarde e a medina que íamos conhecer já estava fechada. Fomos lá só para ver mesmo e seguimos para o hotel.


Medina de Méknes



Nosso albergue em Méknes foi o pior lugar que eu já dormi na minha vida. Estava uns 4˚C e o chuveiro - do lado de fora e um nojo - só tinha água congelante. E a criatura aqui foi lavar a cabeça ainda. Nem preciso dizer que quase morri congelada. Encontrei uma aranha no quarto e não tive coragem de usar o cobertor que tinha lá, ou seja, não dormi praticamente, porque estava passando mal de frio a noite inteira. 

E ainda esqueci minha toalha novinha lá. €7 jogados no lixo. :(

Em frente ao albergue tinha um bar, nós fomos, mas era tão estranho que só pedi uma cerveja local para provar e fui embora. Era um ambiente escuro e com tudo mundo fumando lá dentro. Aliás, os marroquinos fumam em todos os lugares.

No dia seguinte acordamos super cedo de novo para seguir viagem para o deserto e eu não poderia estar mais feliz em saber que não voltaríamos mais naquele hotel horroroso. O lado bom da noite mal dormida foi que eu consegui dormir no ônibus, coisa raríssima, e nós passamos quase 13hrs viajando nesse dia.

Mas foi também nesse dia que fomos realmente conhecer o Marrocos e suas belezas, e a cada parada que fazíamos, nos encantávamos mais e mais pelo lugar.



Paramos no meio da estrada para visitar uns macacos, que viviam ali, em total liberdade. Foi um momento muito gostoso, poder ver os bichos soltos, enquanto na maioria das vezes só conseguimos ver os pobres dentro de jaulas em zoológicos (o que me deprime).




Fazendo pose

Baby Mono

Conseguir tirar foto perto deles é um sufoco, pois eles são divas e olham para o lado quando você aponta a máquina para eles e fogem quando você chega perto. Mas entendo, provavelmente ficam pensando "o que esse bando de humanos estão fazendo aqui, disturbando o meu dia?"



Mas... não deixam de ser adoráveis.








Paramos para comer em um restaurante maravilhoso no meio da estrada (que voltamos no último dia). Não me perguntem o nome nem onde ele fica, pois eu não faço a menor idéia. Mas a comida estava uma delícia.



Não curto colocar fotos de comida, mas é para terem uma idéia.

Continuamos na estrada e eis que no meio do caminho uma ovelha VOA do caminhão que estava na nossa frente. Não, não estou brincando. A pobrezinha literalmente pulou de cima do caminhão e por sorte caiu no mato ao lado da estrada. Ficamos todos desesperados dentro do ônibus e todo mundo desceu para ver o que tinha acontecido. Por sorte, a ovelhinha sobreviveu e, aparentemente, só tinha um machucado no rosto. 




Também, olha como o povo leva os bichos...

O dia começou a escurecer e ficamos um pouco chateados, pois perderíamos o pôr-do-sol no deserto. 

Porém, vê-lo de dentro do ônibus não foi tão ruim assim...




Finalmente chegamos no tão esperado destino: O deserto do Saara.

Já estava escuro e primeiro paramos no hotel onde passaríamos a noite seguinte e onde pegaríamos os camelos que nos levariam para o acampamento no deserto. Ali tem um pequeno povoado, mas o hotel, Nasser Palace (que o nosso guia disse ser dele, mas eu não levei muita fé - ele disse que o Tom Cruise ficou lá... hauhauha EDIT: Segundo a Paula, que ouviu a história diretamente, a Penélope Cruz estava lá filmando o filme Sahara, o Tom Cruise foi visitar e o próprio Nasser contou que ela estava traindo ele com o diretor do filme... o que levou ao fim o relacionamento dos dois) era bem legal. Deixamos as malas no hotel, pegamos o necessário para o deserto (casacos, pois a noite no deserto é congelante, água - 3 litros por pessoa - repelente de mosquitos e saco de dormir, para quem tinha levado).

Andar de camelo é uma experiência incrível. Eu achava que seria como andar à cavalo, mas é bem diferente. Não se preocupem quanto a subir neles, eles ficam "deitados" no chão com os joelhos dobrados,  então é muito fácil de subir. Agora quando ele levanta é que você percebe que não, não é um cavalo. É muito maior e mais alto. 

Eu tinha ficado triste que iríamos pelo deserto à noite, mas quando eu olhei para o céu... não tenho nem palavras para descrever. É a coisa mais linda do mundo. Estrelas, estrelas e mais estrelas. Estrelas cadentes o tempo inteiro. Eu não conseguia parar de olhar para cima.

Como estava escuro, a gente só sabia se o camelo estava subindo ou descendo a duna quando sentíamos a mudança do passo deles. Eu era a primeira da fila e gritava para o pessoal que estava atrás não se assustar (tinha gente com medo). 

O trajeto durou 1:30h e foi um guia levando a gente, caminhando (eu não sei como a criatura aguenta andar 1:30h subindo e descendo duna. Eu fui subir uma duna gigante e quase morri, mas essa parte é no próximo relato).

Chegamos no acampamento, mostraram para a gente as nossas barracas e avisaram que o jantar estava para ser servido. 

"Restaurante"

Super caprichado!



De novo, eu estava meio desconfiada da comida. Como eles iriam cozinhar no meio do deserto?

Outra surpresa, pois novamente, a comida estava uma delícia, principalmente a sopa de entrada.







Depois do jantar, todo mundo vai para fora das barracas e senta em volta da fogueira, os locais começam a tocar músicas e ficamos conversando e apreciando o céu mais lindo do mundo.







As meninas levaram uma garrafa de champanhe e abrimos para tomar lá, num copo de água. Bebemos, deitamos no chão para poder olhar melhor o céu, assistir a chuva de meteoros - tantas estrelas cadentes que nem tínhamos mais pedidos para fazer - e falamos besteira, rimos e nos divertimos, pensando em como um dia contaríamos aos nossos netos sobre aquela noite maravilhosa que passamos no deserto do Saara e que ninguém iria acreditar. 

Porque champanhe no copo é mais chique 


Fomos dormir - a nossa barraca mil vezes melhor que o primeiro hotel, por incrível que pareça. Fez muito frio a noite, mas as mantas que eles dão são suficientes (fiquei com um pouco assim de usar essas mantas, sabe-se lá quando eles lavam, mas o frio foi mais forte).

Ah, e a barraca do lado da nossa recebeu uma visita ilustre:



Hahaha.

Fecho esse relato com o céu mais lindo do mundo... impossível de reproduzir com a minha câmera, mas dá para ser ter uma idéia.



Posto a segunda parte em breve!